O QUE SÃO AS COMBINAÇÕES EM DOSE FIXA E PARA QUE ESTÃO INDICADAS
25/01/2022A PRIMEIRA CONSULTA
03/03/2023Você recebeu uma prescrição de anticoagulantes! Mas em primeiro lugar você sabe para que o mesmo foi indicado?
Para que você tenha um papel ativo na prevenção dos seus problemas cardiovasculares recomendo que você ou seus cuidadores façam as perguntas apropriadas para o seu cardiologista a fim de usufruir dos melhores benefícios destas medicações.
Lembre-se que para participar do seu tratamento você deve conhecer o seu problema, dos tratamentos existentes, seus riscos e benefícios.
O que são anticoagulantes?
Anticoagulantes são medicações que atuam no sistema de coagulação sanguínea. Esta é uma cadeia de reações complexas entre diversas proteínas do sangue que em termos finais gera o coágulo ou trombo.
Lembre-se que este sistema é vital para a nossa hemostasia, que significa prevenção da perda de sangue. Todos os dias estamos predispostos a uma série de traumatismos que colocam em risco a perda dos elementos do sangue, que é um conteúdo essencial para as nossas funções vitais. Existe um fino equilíbrio diário em nosso organismo entre a formação de coágulos e o nosso sistema próprio de anticoagulação. Em algumas situações um pequeno sangramento invisível aos olhos mas por períodos prolongados pode provocar uma profunda anemia. Em contrapartida, um aumento da atividade coagulante pode também gerar conseqüências graves.
Mas se é vital, por que precisamos interferir nesse sistema com uma medicação?
Em algumas doenças, especialmente algumas de origem cardiovascular, existe um claro desequilíbrio entre o sistema coagulante e o anticoagulante, gerando uma predisposição aos coágulos. Mesmo em algumas doenças não cardíacas que aumentam a formação de trombos as consequências geralmente acometem os sistema cardiovascular, pulmonar e cerebral.
De que maneira estes órgãos são afetados?
Existe em primeiro lugar uma diferença que você paciente deve entender. Os coágulos ou trombos não se formam sempre pelo mesmo mecanismo. Por isso, existem medicamentos diferentes para cada situação específica. Em algumas doenças o trombo é gerado pela ativação das plaquetas – um elemento do sangue que faz parte do processo de formação do coágulo. Exemplos comuns desse mecanismo são o Infarto Agudo do Miocárdio (explicado em https://humbertovaz.com.br/sem-categoria/infarto-agudo-do-miocardio-como-acontece/) e alguns tipos de Acidente Vascular Cerebral.
ENTÃO ENTENDA E NÃO CONFUNDA! AS MEDICAÇÕES USADAS NESTES CASOS TAMBÉM “AFINAM O SANGUE”, MAS SÃO CHAMADAS DE ANTIAGREGANTES PLAQUETÁRIOS (P.ex., ASPIRINA, CLOPIDOGREL) E NADA TEM DE SIMILAR AOS ANTICOAGULANTES (P.ex., WARFARINA, DABIGATRANA, APIXABANA, RIVAROXABANA, EDOXABANA)
O modo como os órgão são afetados depende se o vaso acometido pelo trombo é uma artéria ou veia:
No caso de uma veia o exemplo mais comum é a trombose venosa profunda. Se uma veia nos membros inferiores é acometida normalmente o que passa a ficar comprometido é o retorno de sangue para o coração. A pressão nas veias aumenta e ocorre além de muita dor, o inchaço, o empastamento e muitas vezes, caso fique crônico, uma coloração acastanhada da pele.
Se a trombose envolver uma artéria o que estará prejudicado será o aporte de nutrientes ao órgão – a falta em especial de oxigênio carreado pelo sangue ao local afetado se chama isquemia e caso ocorra por tempo prolongado poderá levar a necrose do membro ou órgão – está situação em geral é bastante grave.
Quais condições ou doenças podem aumentar a chance de coágulos?
As doenças que causam um aumento do sistema coagulante ainda se baseiam em um conceito muito antigo chamado tríade de Virchow, composta por hipercoagulabilidade, estase venosa e lesão endotelial (células das paredes dos vasos sanguíneos) e permanece sendo um modelo útil para identificarmos a interação de fatores genéticos e gatilhos ambientais que causam trombose (doença gerada pelo trombo).
As doenças ou condições mais comuns que podem gerar trombose e afetar os pulmões, cérebro e vasos em nossa prática são:
- Imobilidade;
- Câncer;
- Cardiopatia;
- Próteses cardíacas;
- Fibrilação atrial;
Estas doenças ou condições predispõe em algum ponto desta tríade a formação da trombose ou tromboembolismo venoso (trombo que se desloca pelas veias) ou tromboembolismo arterial (trombo que se desloca pelas artérias).
Aí vão alguns exemplos:
- Imobilidade: pós operatório, imobilização de membro: trombose venosa profunda ou tromboembolismo venoso;
- Câncer: estado de hipercoagulabilidade do sangue;
- Cardiopatias podem gerar coágulos no coração ou estruturas que podem viajar pelos vasos arteriais (tromboembolismo arterial);
- insuficiência cardíaca;
- após infarto agudo do miocárdio;
- Arritmias: fibrilação atrial;
Um coágulo gerado no coração ou na circulação pode se deslocar até um ponto estreito gerando isquemia. Neste caso podemos apresentar
- em vasos dos membros: oclusão arterial aguda;
- em vasos do cérebro: acidente vascular cerebral;
- em artérias pulmonares: tromboembolismo pulmonar
Saber quais as doenças e condições predisponentes para a trombose ou tromboembolismo são fundamentais para a escolha do anticoagulante correto, sua dosagem e tempo de tratamento. Como médico cardiologista devo saber quais são estas condições e ser vigilante para tratá-las imediatamente caso aconteçam.
Em breve abordaremos como podemos acompanhar o uso destas medicações de maneira correta para identificarmos pontos chaves de segurança e eficácia para você.