CUIDADOS APÓS IMPLANTE DE MARCAPASSO DEFINITIVO
23/01/2022ANTICOAGULANTES ORAIS – PARA QUE ESTÃO INDICADOS?
22/05/2022Os medicamentos que contém mais de um princípio ativo em apenas uma única formulação ou comprimido são chamados de combinação em dose dose fixa e idealizados há mais de 20 anos como uma forma de tratamento que facilita a adesão às estratégias de prevenção. Este é o conceito da “polipílula” ou “Polypill“.
Aproximadamente 19 milhões de pessoas no mundo inteiro morrem de doenças do coração anualmente
Cerca de 80 por cento dos eventos cardiovasculares (morte cardíaca súbita, infarto ou AVC) ocorrem nos indivíduos sem uma história prévia de tais doenças, significando que estratégias preventivas eficazes onde estão incluídas algumas classes de medicamentos nas pessoas livres de doença (mas com risco) são essenciais. Todos nós sabemos que usar diversos medicamentos ao dia exige uma disciplina quase não factível frente a nossa rotina do dia-a-dia e isto é um tanto mais difícil ainda na população idosa.
Acredito que uma combinação de medicações em uma única pílula pode ser uma boa saída para melhorarmos a posologia e interações sinérgicas de medicações que geralmente devam ser combinadas como é o caso de medicações para a pressão arterial.
Mas devemos ficar atentos a alguns pontos negativos destas associações:
- Polifarmácia – Algo que deve ser evitado em idosos;
- Custo – Existem algumas combinações para a pressão arterial que alavancaram os lucros da indústria farmacêutica – são as drogas mais vendidas no mundo, mas não vencem o seu propósito básico de ser uma medicação “para a vida inteira” pelo seu custo exorbitante;
- Posologia: Os ajustes da dose e horário de administração ficam limitados pois além da medicação, suas dosagens e horários de uso também são fixos;
- Interações: Às vezes uma das substâncias pode ser usada mas a outra interage com outros remédios em uso pelo paciente;
- Tolerância: Em algumas situações ao longo da evolução do paciente uma das medicações pode interagir negativamente com outra ou uma delas poderá não ser mais tolerada pelo paciente em razão de alguma outra condição;
Um tipo de estudo chamado metanálise que incluiu vários estudos clínicos cada um com mais de mil participantes e seguimento de mais de 2 anos comparou as combinações em dose fixa contra placebo ou tratamento usual para pacientes em prevenção primária, ou seja, aqueles que nunca tiveram infarto ou AVC no passado. As drogas incluíam pelo menos 2 antihipertensivos + uma estatina (para reduzir colesterol) e ainda com ou sem AAS (ácido acetil salicílico, a chamada aspirina). O desfecho para ser pesquisado era o tempo transcorrido para o primeiro infarto, derrame ou revascularização de artérias e o objetivo saber se estas pílulas com vários medicamentos pudessem retardar ou prevenir estes desfechos.
Neste estudo as combinações em dose fixa ou os chamados “polypills”, que inclui aspirina reduziu o risco de ataque cardíaco por 53 por cento, de AVC por 51 por cento, e de mortes de causas cardiovasculares por 49 por cento.
Os efeitos maiores são considerados com tratamentos que incluem ANTIHIPERTENSIVOS, ESTATINAS E ASPIRINA junto, que podem reduzir eventos cardiovasculares fatais e não-fatais por aproximadamente a metade. Os benefícios são consistentes em níveis diferentes da pressão sanguínea, níveis de colesterol e com ou sem o diabetes e benefícios ainda maiores podem ocorrer nos mais idosos.
Os resultados demonstrados melhoraram a aderência de pacientes aos regimes de tratamento e o melhor controle dos fatores de risco com um “polypill”, comparado ao uso de únicas drogas, do cuidado usual, ou de placebo.
Em resumo, as estratégias sempre estão voltadas para cuidados de hábito e estilo de vida.
Nunca conseguiremos uma pílula “sagrada”. Lembre-se, o cuidado vêm de dentro.
As combinações em dose fixa podem ser uma ótima opção se o paciente tiver as características apropriadas para tal e se ajustar ao risco de interações, às dosagens, horários, tolerância e custos e ainda puder manter um acompanhamento regular com seu cardiologista.
Referências:
Roth GA, Mensah GA, Johnson CO, et al. Global burden of cardiovascular diseases and risk factors, 1990–2019: update from the GBD 2019 Study. J Am Coll Cardiol 2020; 76: 2982–3021
Joseph, P., et al. (2021) Fixed-dose combination therapies with and without aspirin for primary prevention of cardiovascular disease: an individual participant data meta-analysis. The Lancet. doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01827-4.