NÃO TENHO SINTOMAS. POR QUAL MOTIVO DEVO CONSULTAR REGULARMENTE UM CARDIOLOGISTA?
29/08/2020BEBIDAS ENERGÉTICAS E RISCO CARDIOVASCULAR.
27/12/2020O que você deve saber.
A Hipertensão arterial Sistêmica (aqui frequentemente chamarei como HAS) é uma desordem funcional da circulação arterial ainda de origem incerta porém determinada por diversos fatores entre eles: genéticos/hereditários, comportamentais ou ambientais (ingestão de sódio e retenção de líquidos em excesso), sedentarismo, obesidade, hormonais ou determinadas pelo funcionamento do sistema nervoso central.
Resumindo: estes fatores influenciam a sobrecarga da circulação nas artérias e irão causar uma série de reações de adaptação (pela agressão) em seus órgãos. Chamamos de órgãos-alvo aqueles que sofrem os efeitos da pressão arterial e podem indicar maior risco ao paciente.
Quais são os órgãos-alvo da HAS?
Coração, artérias, cérebro, retina e rins
E na prática o que pode acontecer?
Com o passar do tempo de instalação da pressão arterial e dependendo dos seus níveis essas alterações podem ser vistas em alguns exames e encontram-se denominadas abaixo:
- Coração: Hipertrofia do ventrículo esquerdo;
- Olhos: Retinopatia hipertensiva;
- Rins: Nefropatia hipertensiva;
- Cérebro: Encefalopatia hipertensiva;
- Artérias: Obstruções por aterosclerose (por exemplo: carótidas e artérias dos membros inferiores) ;
Qual o risco que estas alterações podem indicar?
Estas alterações quando encontradas indicam um risco maior de:
- Infarto Agudo do Miocárdio;
- Acidente vascular Cerebral;
- Doença arterial Periférica e falta de circulação nos membros inferiores;
- Doença renal – perda de função dos rins e necessidade de hemodiálise;
- Doenças da retina e comprometimento da acuidade visual;
Tenho como estimar este risco?
Sim. E dependendo destes fatores relacionados aos níveis de pressão arterial quando associados aos outros fatores de risco clássicos que já destacamos por aqui (obesidade, tabagismo, diabete…) podemos classificar a chance destes problemas descritos acima (que são muito sérios) ocorrerem através de ferramentas específicas para cada indivíduo e geralmente em um período de 10 anos como: baixo, moderado, alto e muito alto;
E no que isso ajuda ?
Isto ajuda o médico a guiar a sua intervenção, escolher medicamentos ou combinações de medicamentos adequadas e a estabelecer metas. Quanto maior o risco de um paciente mais rígidas devem ser as medidas para se normalizar as medidas do colesterol LDL, pressão arterial, correção do Diabete e estilo de vida. Além disto, quanto maior o risco, mais rapidamente estas estratégias devem ser adotadas.
Viram que falando de pressão arterial voltamos a falar sobre outros fatores de risco que devem ser enfatizados quando encontrados? É por que o paciente deve ser abordado globalmente – e por isso ao falarmos em avaliação cardiovascular utilizamos o termo “avaliação de risco global”.
Como deve ser a abordagem do paciente hipertenso ?
O ideal é não falar em tratamento, pois o mesmo tem conotação de início e término e infelizmente isto não existe nas doenças crônicas. O correto é falarmos em controle. Realizado o diagnóstico de HAS teremos uma alteração que deverá ser controlada para a vida inteira. Ao falarmos em controle colocamos também o foco na modificação de hábitos e estilo de vida: uma dieta saudável sem alimentação rica em gorduras, sódio e alimentos processados, atividade física, controle da obesidade, atividade física, combate ao diabete e colesterol e abandono do tabagismo.
Como falamos anteriormente, diversos fatores são responsáveis pela hipertensão. Como não sabemos a causa não temos um tratamento específico, mas guiamos o tratamento para cada um dos fatores que contribuem em sua manutenção:
- Retenção hidrossalina (sobrecarga de líquidos e sódio): diuréticos (por exemplo: hidroclorotiazida, furosemida);
- Hormonal: Inibidores da Enzima de Conversão da Angiotensina (IECA) e bloqueadores dos receptores de angiotensina (por exemplo: enalapril, losartana);
- Mecanismos neurológicos centrais: clonidina;
- Vasodilatadores diretos: hidralazina;
- Contratilidade e frequência do coração: betabloqueadores (atenolol, bisoprolol, carvedilol), e inibidores dos canais de cálcio (por exemplo, verapamil, diltiazem).
Existe algum medicamento melhor que outro?
Em geral, como já determinado em muitos estudos sobre o tema, costumo comentar que: “O melhor tratamento para a HAS é aquele que faz a sua pressão baixar”.
Uma outra regra é que dependendo de outras doenças ou problemas de saúde não cardíacos do paciente podemos usar medicamentos específicos como por exemplo:
- HAS e angina: betabloqueadores pois aliviam a dor no peito por causa da falta de circulação no coração (isquemia);
- HAS e Diabete: Inibidores da Enzima de Conversão da Angiotensina pois diminuem a queda da função do rim nos pacientes que possuem Diabetes;
- HAS e arritmias: betabloqueadores ou inibidores de canais de cálcio (atenolol, verapamil, respectivamente) pois reduzem a frequência dos batimentos cardíacos;
Quantas medicações podemos usar para controlar a pressão arterial?
- Existe uma lógica que diz que, como não sabemos qual o mecanismo principal que está por trás da manutenção da HAS em nosso paciente, os estudos indicam que é melhor adotarmos uma estratégia chamada “The faster, the better” (quanto mais rápido melhor) com medicações combinadas, ou seja, quanto mais rápido ajustarmos os níveis de pressão arterial e os outros fatores de risco e voltarmos a um padrão aceitável de risco para nosso paciente será melhor. Então devemos iniciar geralmente com uma combinação de medicações, que geralmente inclui um diurético.
E por quê?
Por que é melhor usarmos mais medicações que atuam em mecanismos diferentes da pressão arterial e em doses menores do que apenas uma medicação em doses crescentes e que atuam em um só mecanismo. Isso aumenta a chance de acertarmos no tratamento e de diminuirmos os efeitos colaterais, você não acha?
Como devemos seguir com o tratamento?
Somente poderemos saber se o tratamento está fazendo efeito se for utilizado regularmente em algumas semanas, mantendo-se o mesmo horário e não esquecendo das tomadas diárias. Lembre-se que sentir-se bem e à vontade com a medicação não é a meta que procuramos no seu controle, portanto, não adianta interromper o tratamento por sentir-se bem ou sem sintomas. A pressão arterial é silenciosa e você pode ter níveis altíssimos mesmo sentindo-se bem – acredite.
Qual a meta ?
A meta está baseada na correção dos níveis de pressão indicados individualmente para você em medidas realizadas com técnica adequada no consultório;
Muito cuidado em realizar medidas aleatórias em casa, na farmácia, em casa, em um aparelho de um amigo ou quando está com algum sintoma. Não é assim que fazemos para ver se a pressão está controlada;
Somente podemos nos basear em controles da pressão arterial se a mesma for realizada em ambiente controlado e seguindo recomendações específicas;
Algumas vezes solicitamos medidas fora do consultório como a MAPA (medida ambulatorial da pressão arterial) e MRPA (medida residencial da pressão arterial) – veremos estes assuntos em outro tópico.
Certamente abriremos a partir deste post mais dúvidas que serão esclarecidas. Então fique atento a estas e mais sugestões para controlarmos a HAS e obtermos mais saúde cardiovascular e qualidade de vida.